O coração humano é uma máquina notável que bate ininterruptamente desde o momento em que nascemos até o último suspiro. Mas você sabia que, às vezes, o ritmo desse órgão vital pode se desorganizar?
Essas alterações no ritmo cardíaco são conhecidas como Arritmias Cardíacas e podem variar de quadros leves até condições potencialmente fatais.
Quando pensamos em arritmias cardíacas, muitas vezes associamos essa condição aos adultos. No entanto, é importante lembrar que as arritmias também podem afetar as crianças.
Embora menos comuns do que nos adultos, as arritmias cardíacas na infância causam preocupação e ansiedade aos pais, e podem ser sérias.
Neste artigo, abordaremos as arritmias na infância, desde as causas até o diagnóstico e tratamentos, fornecendo informações essenciais para garantir a saúde dos pequenos corações.
O que são arritmias cardíacas?
Arritmias cardíacas são alterações no ritmo normal do coração, que podem resultar em batimentos cardíacos irregulares, rápidos, lentos ou batimentos extras.
O coração humano normalmente bate em um ritmo coordenado, conhecido como ritmo sinusal. Nas arritmias, acontece um descompasso nestas batidas e o ritmo cardíaco se torna anormal.
Existem vários tipos de arritmias cardíacas, com causas e manifestações diversas. De uma maneira geral, conseguimos agrupá-las em:
- Taquicardia (coração acelerado);
- Bradicardia (coração lentificado);
- Regulares (batidas no compasso);
- Irregulares (batidas descompassadas).
As arritmias têm diversas origens. Podem ser causadas por problemas estruturais do coração ou podem ser a manifestação clínica de outras doenças.
Quando são causadas por problemas estruturais, podem ter diversas origens: atrial, ventricular, juncional.
As arritmias cardíacas podem variar em gravidade, desde arritmias benignas que não requerem tratamento até condições potencialmente fatais, como a fibrilação ventricular, que pode levar a parada cardíaca e morte súbita.
É importante destacar que nem todas as arritmias cardíacas causam sintomas perceptíveis. Algumas pessoas podem ter arritmias assintomáticas, enquanto outras podem experimentar palpitações, tontura, falta de ar, dor no peito, desmaios ou fadiga excessiva.
Importante se lembrar que, no público pediátrico, a frequência cardíaca varia de acordo com a idade. Quanto mais jovem a criança, maior a frequência cardíaca. Portanto, nos recém-nascidos, é normal encontrarmos frequências em torno de 120 -150 batimentos por minuto. Nas crianças maiores estes valores são muito altos e precisam ser investigados. Da mesma maneira, FC de 60 bpm no adulto é normal. No recém-nascido não.
Vamos resumir:
Taquicardia
Caracterizada por um ritmo cardíaco acelerado, fora dos valores de referência para a faixa etária. Podem ser causadas por defeitos estruturais do coração (com origem nos átrios, nos ventrículos ou na junção atrioventricular), por doenças sistêmicas ou até como uma adaptação fisiológica. Podem ser leves, graves ou extremamente graves.
Bradicardia
Nesse caso, o ritmo cardíaco é anormalmente lento para a faixa etária. A bradicardia também tem diversas causas: problemas no feixe de condução, prematuridade, doenças maternas ou patologias sistêmicas que têm a bradicardia como sintoma.
Extra-sístoles
São batimentos cardíacos extras que ocorrem entre os batimentos regulares. Podem ser inofensivas, mas em alguns casos podem indicar (e causar) problemas subjacentes.
Principais causas de arritmias cardíacas na infância
- Distúrbios elétricos hereditários: alguns distúrbios genéticos afetam o sistema elétrico do coração, como a Síndrome do QT Longo e a Síndrome de Wolff-Parkinson-White.
- Infecções: algumas infecções virais, como a miocardite, podem causar inflamação no músculo cardíaco e desencadear arritmias.
- Desequilíbrio eletrolítico: níveis anormais de eletrólitos no sangue podem afetar o ritmo cardíaco, especialmente em casos de desidratação grave.
- Cardiopatias congênitas: algumas alterações anatômicas no coração se relacionam à presença de arritmias cardíacas.
- Prematuridade
- Doenças maternas, com Lúpus.
- Uso de algumas medicações
- Traumas torácicos de grande impacto
- Causas genéticas. Algumas arritmias podem ser herdadas.
Sintomas das arritmias cardíacas na infância
Reconhecer a arritmia cardíaca em uma criança pode ser um desafio, uma vez que nem sempre elas são capazes de comunicar seus sintomas claramente. No entanto, fique atento aos seguintes achados:
- Queixa de palpitações (ou batedeira): se a criança reclamar de sensações estranhas no peito, como batimentos cardíacos acelerados ou pulsação irregular, é importante investigar. Principalmente se esta queixa acontecer durante o repouso e estiver acompanhada de outros sinais/sintomas.
- Desmaios ou tonturas: a perda súbita da consciência ou a sensação de tontura podem indicar um problema no ritmo cardíaco.
- Falta de energia ou cansaço excessivo: se a criança parecer estar sempre cansada, mesmo após períodos de descanso adequado, pode haver uma alteração no ritmo cardíaco.
- Dor súbita no peito
- Nos recém-nascidos, a presença de palidez súbita, sudorese, irritabilidade e intolerância à dieta podem ser sinais de arritmias cardíacas.
Diagnóstico da Arritmia Cardíaca
A suspeição de uma quadro de arritmia pode ser feita por pediatras e clínicos gerais. Entretanto, o diagnóstico das arritmias cardíacas em crianças geralmente é realizado pelo cardiologista pediátrico.
Através de uma entrevista direcionada e um exame físico minucioso, aliado a exames específicos, é possível identificar a causa da arritmia.
Os exames mais utilizados nesta investigação são:
- Eletrocardiograma (ECG);
- Ecocardiograma;
- Teste ergométrico;
- Teste cardiopulmonar;
- Holter.
Para definição específica e planejamento do tratamento, também utilizamos o estudo eletrofisiológico.
Tratamento da Arritmia Cardíaca
O tratamento das arritmias cardíacas na infância depende da causa e da condição clínica de cada paciente.
Em alguns casos, as arritmias podem desaparecer de forma espontânea, sem remédio e sem intervenção, apenas com o crescimento da criança.
Em outros casos, pode ser necessário fazer uso de medicações antiarrítmicas e até procedimentos de intervenção, com ablações e cirurgias.
O implante de marca-passo e desfibriladores também pode ser utilizado em casos específicos.
Conclusão:
As arritmias cardíacas podem afetar crianças e adultos e se manifestam de formas diversas. É essencial ficar atento aos sinais e sintomas.
Com o diagnóstico precoce e o tratamento correto, é possível controlar o quadro, garantindo saúde e bem estar dos pacientes.
Principais distúrbios do ritmo cardíaco
Fibrilação atrial
A Fibrilação Atrial (FA) é a arritmia cardíaca sustentada mais frequente, responsável por 33% de todas as internações por arritmia. Ocorre entre 1% e 2% na população geral, aumentando significativamente com o envelhecimento e com a presença de doenças cardíacas.
A Fibrilação Atrial é uma arritmia cardíaca caracterizada pela desorganização da atividade elétrica dos átrios (câmaras superiores do coração) e consequente perda da contração atrial.
Ela está associada ao AVC (derrame) em pacientes com fatores de risco (idosos, coração dilatado, pressão alta, diabetes, etc.) e pode causar quadros severos de insuficiência cardíaca.
O diagnóstico da Fibrilação Atrial é realizado pelo eletrocardiograma.
Decisões sobre a necessidade de reversão da arritmia, anticoagulação e o controle da FC devem ser tomadas de forma individualizada.
Flutter Atrial
O Flutter Atrial também é causado por uma desorganização no ritmo atrial. No público fetal e neonatal, é uma das taquicardias mais frequentes.
Pode causar sintomas como irritabilidade, distensão abdominal, sudorese, cansaço.
Seu diagnóstico é realizado por eletrocardiograma e o tratamento deve ser individualizado. Podemos utilizar fármacos e até cardioversão elétrica, nos casos mais graves.
Torsades de pointes
Torsades de pointes (do francês “torções das pontas”) são um fenômeno identificado no eletrocardiograma como um tipo de arritmia ventricular polimórfica rara, adquirida ou congênita, associada a uma perturbação na repolarização ventricular (repolarização retardada ou alongada: QT longo).
É uma emergência médica e pode causar perda da consciência, choque cardiogênico e morte súbita.
Taquicardia Supraventricular
As Taquicardias Supraventriculares são arritmias que aceleram subitamente os batimentos cardíacos e se originam nas câmaras superiores do coração (átrios).
Podem ser secundárias a focos de atividade elétrica anormal ou a circuitos de reentrada (vias acessórias, Wolff-Parkinson-White e reentrada nodal). Podem afetar pacientes de todas as faixas etárias, inclusive crianças.
Muitas vezes não tem causa aparente e podem ocorrer em corações anatomicamente normais.
As manifestações clínicas são variáveis, mas geralmente cursam com palpitações taquicárdicas (sensação de batedeira) de início súbito. Apresentações mais severas como desmaios são raras, mas podem acontecer.
Bradicardia Sinusal
Trata-se de uma bradicardia caracterizada por frequências cardíacas abaixo dos 60 batimentos por minuto, ocasionada por disfunções no nó sinoatrial (NSA).
Bloqueio AV completo
É um tipo de bradicardia caracterizado pela interrupção da transmissão dos estímulos elétricos entre os átrios e os ventrículos, resultando em uma frequência cardíaca abaixo de 50 batimentos por minuto.
Bloqueio AV parcial
Trata-se de um tipo de bradicardia em que ocorre uma interrupção parcial da transmissão dos estímulos elétricos entre os átrios e os ventrículos.
Tratamentos para Arritmia Cardíaca disponíveis
Os tratamentos para arritmia cardíaca dependem do tipo de arritmia, da causa implícita e da gravidade dos sintomas.
Algumas pessoas podem não precisar de tratamento, enquanto outras podem precisar de medicamentos ou procedimentos de intervenção.
O objetivo do tratamento é normalizar o ritmo cardíaco e prevenir complicações.
Medicamentos
Os medicamentos para arritmia cardíaca podem ser utilizados para controlar a frequência cardíaca (reduzindo os sintomas) ou para converter a arritmia.
Eles incluem beta-bloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio e anti-arrítmicos.
Os anticoagulantes também são utilizados uma vez que, em diversas arritmias, o AVC é uma complicação frequente.
Intervenções
A intervenção mais utilizada é a ablação. Este procedimento é realizado por meio de cateteres, sem a necessidade de abertura do tórax.
Estes cateteres são posicionados no foco da arritmia e uma energia é aplicada, eliminando o foco da arritmia.
Marca-passo
O marca-passo é um pequeno dispositivo implantado no coração que tem por objetivo monitorar a frequência cardíaca e estimular o coração nos momentos de bradicardia.
Cardioversor Desfibrilador Implantável (CDI)
O Cardioversor Desfibrilador Implantável é um aparelho pequeno implantado no tórax que monitora e trata alterações graves do ritmo do coração, que podem provocar uma parada cardíaca.
Esse dispositivo, ao reconhecer um distúrbio do ritmo cardíaco de risco, é acionado automaticamente emitindo impulsos elétricos, para reverter de forma imediata a arritmia maligna.
É importante ressaltar que um tratamento eficaz para a arritmia cardíaca depende do diagnóstico correto da causa. Portanto, é imprescindível consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer tratamento.
Principais dúvidas sobre a Arritmia Cardíaca
Quando o paciente deve buscar tratamento?
Se a arritmia for grave, pode causar sintomas como falta de ar súbita, dor no peito e desmaio.
Se você apresentar esses sintomas, entre em contato com seu médico ou ligue para o serviço de emergência mais próximo.
Quais os riscos da Arritmia Cardíaca?
A arritmia cardíaca é um distúrbio do ritmo cardíaco que se não for tratada, pode levar à insuficiência cardíaca ou até mesmo a parada cardíaca.
Outros riscos incluem danos ao coração, acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio e até mesmo morte súbita.
Alguns riscos também estão associados às terapias medicamentosas usadas para tratar a arritmia cardíaca, como os efeitos colaterais graves e interações com outros medicamentos.
Quem tem Arritmia Cardíaca pode praticar esportes?
Muitas pessoas com arritmia cardíaca podem ter um estilo de vida normal e praticar esportes.
No entanto, é importante consultar o seu médico para saber se a sua condição requer cuidados especiais antes ou durante a atividade física.
Algumas pessoas com arritmia cardíaca têm sintomas que podem ser desencadeados pelo exercício, como palpitações ou fadiga.
Se você tem sintomas durante o exercício, é importante parar imediatamente e consultar um médico cardiologista, ele poderá recomendar atividades físicas específicas que são seguras para a sua condição.
Arritmia Cardíaca pode ser fatal?
Sim, em alguns casos, a arritmia cardíaca pode ser fatal.
As arritmias ventriculares, que começam nos ventrículos (as câmaras de bombeamento do coração), são geralmente as mais perigosas.
A fibrilação ventricular e a taquicardia ventricular sem pulso são tratadas como parada cardíaca. Demandam compressão torácica e tratamento específico.
Quanto custa tratar a Arritmia Cardíaca?
O custo do tratamento da arritmia cardíaca pode variar amplamente, dependendo da natureza específica da arritmia, da gravidade dos sintomas e do tipo de tratamento necessário.
Para estimar o custo do tratamento da Arritmia Cardíaca será necessário realizar uma consulta a uma cardiologista para decidir qual tratamento será mais indicado para sua condição física.
Onde consultar e tratar da Arritmia Cardíaca em Belo Horizonte
Dra. Marina Fantini é altamente qualificada e carrega consigo um amplo conhecimento nas áreas de pediatria e cardiologia.
É coordenadora da Cardiologia Pediátrica e ECMO na Rede Mater Dei, CEO da Ecmo Minas, professora do curso de medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da pós-graduação no Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte.
É também membro titular da Sociedade Brasileira de Pediatria, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e Especialista em ECMO pela ELSO.
Agende abaixo a sua consulta: