A dor no pós-operatório de cirurgia cardíaca infantil é um fenômeno esperado, mas que deve ser reconhecido, monitorado e tratado com precisão.
O controle adequado da dor não apenas melhora o conforto do paciente, mas também contribui para uma recuperação mais rápida, reduz complicações respiratórias, melhora a aceitação alimentar e favorece o vínculo com a família.
Na nossa rotina cirúrgica, todos os cuidados são pensados para que a criança não sinta dor, nem mesmo no início do processo anestésico.
A sedação é iniciada com muito carinho, e nenhuma manipulação dolorosa — nem mesmo a punção de veia periférica — é feita enquanto a criança está acordada.
Antes de qualquer procedimento, ela já está dormindo, acolhida por uma equipe treinada e sensível.
Além disso, nossos anestesistas realizam bloqueios regionais, como o bloqueio ESP (erector spinae plane block), que funcionam como uma analgesia local potente, proporcionando excelente controle da dor no pós-operatório imediato.
Esses cuidados fazem parte do nosso compromisso com um processo cirúrgico humanizado, confortável e seguro.
Entendendo a dor no pós-operatório em crianças
Toda cirurgia cardíaca envolve manipulação extensa de tecidos, toracotomia, colocação de drenos, passagem por circulação extracorpórea e uso de tubos ou cateteres.
Mesmo com todo o cuidado da equipe cirúrgica, é natural que ocorra dor nas primeiras horas e dias após o procedimento.
Em crianças, a dor pode ser agravada pela dificuldade de comunicação e pelo medo do ambiente hospitalar.
É essencial entender que o alívio da dor não é apenas um dever ético — é parte fundamental da prática clínica de qualidade.
O controle inadequado da dor pode gerar taquicardia, hipertensão, retenção urinária, atelectasias e até cronificação da dor.
Também é importante que os pais saibam que choro nem sempre é sinal de dor. Muitas vezes, pode representar sede, fome, desconforto com o ambiente desconhecido ou mesmo saudade.
A observação atenta da equipe, combinada com o acolhimento dos pais, ajuda a identificar com precisão o que a criança está sentindo.
Sinais de dor em bebês e crianças pequenas
Bebês e crianças pequenas não conseguem relatar a dor da mesma forma que crianças maiores ou adultos.
Por isso, é fundamental observar sinais comportamentais e fisiológicos.
A equipe assistencial está treinada para reconhecer essas manifestações, mas o olhar atento da família também faz diferença.
Principais sinais de dor incluem:
- Choro agudo, contínuo e difícil de consolar
- Expressão facial de sofrimento (testa franzida, olhos semicerrados, boca contraída)
- Postura enrijecida ou, ao contrário, imobilidade e falta de reação
- Recusa alimentar ou amamentação ineficaz
- Aumento da frequência cardíaca e respiratória
- Alterações no sono (despertares frequentes ou sonolência excessiva)
- Irritabilidade, gemência ou gemidos baixos persistentes
Em algumas situações, o desconforto pode ser confundido com dor, e vice-versa.
Por isso, utilizamos escalas específicas para avaliação da dor em cada faixa etária, como a FLACC (Face, Legs, Activity, Cry, Consolability) e a NIPS (Neonatal Infant Pain Scale).
Essas ferramentas ajudam a individualizar o tratamento, garantindo que cada criança receba o cuidado mais apropriado à sua necessidade.
Manejo da dor: medicamentos e técnicas não farmacológicas
O tratamento da dor no pós-operatório de cirurgia cardíaca infantil é realizado por meio de uma abordagem multimodal, que combina medicamentos com medidas de conforto físico e emocional.
Essa estratégia visa aliviar a dor, reduzir a ansiedade e acelerar o processo de recuperação.
Terapias farmacológicas incluem:
- Analgésicos simples, como paracetamol e dipirona
- Anti-inflamatórios não esteroidais (quando não há contraindicação)
- Opioides (como morfina), em casos de dor intensa
- Sedação leve em contextos específicos, sempre sob monitoramento intensivo
Técnicas não farmacológicas incluem:
- Contato pele a pele e aconchego com os pais
- Amamentação ou uso de soluções adocicadas para bebês
- Posicionamento confortável e uso de travesseiros ou suportes
- Estímulos calmantes, como música suave, vídeos, brinquedos sensoriais
- Aromaterapia e massagens leves, quando indicadas
No nosso serviço, a participação dos pais no controle da dor é um diferencial.
Incentivamos que eles permaneçam o máximo de tempo possível ao lado dos filhos.
Muitos se deitam com as crianças ou ficam de mãos dadas durante os momentos de desconforto.
Esse contato direto transmite segurança, reduz o estresse e contribui de forma significativa para o alívio da dor.
A presença afetiva familiar é reconhecida como uma forma terapêutica complementar, especialmente em um ambiente tão sensível quanto o pós-operatório de uma cirurgia cardíaca.
Esse cuidado conjunto — técnico e afetivo — é parte fundamental da nossa filosofia de humanização, que vê a dor da criança não apenas como um sintoma, mas como uma experiência que deve ser acolhida, compreendida e tratada com excelência e empatia.
Importância da equipe médica no controle da dor
O controle da dor no pós-operatório exige conhecimento técnico e sensibilidade.
A equipe médica — composta por cardiologistas pediátricos, anestesistas, intensivistas, enfermeiros e fisioterapeutas — trabalha de forma coordenada para avaliar continuamente o nível de dor, ajustar o plano terapêutico, prevenir efeitos adversos e garantir conforto e segurança ao paciente.
Além disso, todos os profissionais estão treinados para identificar manifestações não verbais de dor e reconhecer quando a criança precisa de intervenção.
O manejo da dor não é responsabilidade de um único profissional, mas de todo o time assistencial.
Como os pais podem auxiliar no alívio da dor do filho
A presença dos pais é um fator protetor no processo de recuperação. Mesmo na UTI, o contato afetivo proporciona estabilidade emocional e fisiológica.
Os pais podem contribuir:
- Reconhecendo alterações no comportamento e relatando à equipe
- Participando de atividades de conforto (segurar no colo, cantar, conversar)
- Oferecendo carinho e companhia em momentos difíceis
- Mantendo a calma e transmitindo segurança à criança
Acreditamos que os pais são parte essencial do cuidado.
Por isso, integramos a família de forma ativa, respeitando seus limites e incentivando sua presença contínua.
Perguntas frequentes sobre dor no pós-operatório cardíaco em crianças
É normal a criança sentir dor após a cirurgia cardíaca?
Sim. A dor é uma resposta natural a qualquer procedimento cirúrgico. O importante é que essa dor seja reconhecida e tratada.
Em nosso serviço, usamos estratégias para minimizar a dor desde o início do processo anestésico até a recuperação completa.
O objetivo é garantir conforto sem comprometer a segurança e a recuperação da criança.
Quais são os métodos utilizados para aliviar a dor no pós-operatório?
Utilizamos uma combinação de abordagens farmacológicas (como analgésicos, opioides e anti-inflamatórios) e técnicas não farmacológicas (como aconchego dos pais, posicionamento confortável, música, estímulos visuais e envolvimento emocional).
O bloqueio regional anestésico, como o bloqueio ESP, também é parte da rotina no intraoperatório, contribuindo significativamente para o alívio da dor nas primeiras horas após a cirurgia.
Quanto tempo dura a dor após a cirurgia cardíaca infantil?
A dor é mais intensa nas primeiras 48 a 72 horas após a cirurgia, período em que o controle é feito com medicações intravenosas e apoio contínuo da equipe.
Com a retirada de drenos, sondas e acessos, a dor tende a diminuir gradualmente.
A maioria das crianças apresenta melhora significativa após o 3º ou 4º dia de pós-operatório, e o controle pode ser mantido por via oral, se necessário, mesmo após a alta hospitalar.
Cada criança é única, e o tempo de dor pode variar conforme o tipo de cirurgia e o perfil individual.
Qual especialista consultar em caso de necessidade de cirurgia cardíaca infantil
Dra. Marina Fantini é altamente qualificada e carrega consigo um amplo conhecimento nas áreas de pediatria e cardiologia.
É coordenadora da Cardiologia Pediátrica e ECMO na Rede Mater Dei, CEO da Ecmo Minas, professora do curso de medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da pós-graduação no Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte.
É também membro titular da Sociedade Brasileira de Pediatria, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e Especialista em ECMO pela ELSO.
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